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PSICOLOGIA




A letra grega ? ("psi"), símbolo da Psicologia.


Psicologia (do grego Ψυχολογία, transl. psykhologuía, de ψυχή, psykhé, "psique, "alma", "mente" e λόγος, lógos, "palavra", "razão" ou "estudo") "é a ciência que estuda o comportamento (tudo o que um organismo faz) e os processos mentais (experiências subjetivas inferidas através do comportamento)". O principal foco da psicologia se encontra no indivíduo, em geral humano, mas o estudo do comportamento animal para fins de pesquisa e correlação, na área da psicologia comparada, também desempenha um papel importante (veja também etologia).
O objeto de estudo dessa ciência contudo ainda hoje é alvo de controvérsias, especialmente quanto as distinções ou necessidades de estudo da mente em oposição ao estudo da comportamento.
Paralela à psicologia científica aqui tratada existe também uma psicologia do senso comum ou quotidiana, que é o sistema de convicções transmitido culturalmente que cada indivíduo possui a respeito de como as pessoas funcionam, se comportam, sentem e pensam. A psicologia usa em parte o mesmo vocabulário, que adquire assim significados diversos de acordo com o contexto em que é usado. Assim, termos como "personalidade" ou "depressão" têm significados diferentes na linguagem psicológica e na linguagem quotidiana. A própria palavra "psicologia" é muitas vezes usada na linguagem comum como sinônimo de psicoterapia e, como esta, é muitas vezes confundida com a psicanálise.
Apesar da semelhança de nome, a parapsicologia representa uma disciplina completamente diversa, com outro objeto de estudo.



INTRODUÇÃO



A psicologia é a ciência que estuda o comportamento e o psiquismo , cabe agora definir tais termos.
- Dizer que a psicologia é uma ciência significa que ela é regida pelas mesmas leis do método científico que regem as outras ciências: ela busca um conhecimento objetivo, baseado em fatos empíricos. Pelo seu objeto de estudo a psicologia desempenha o papel de elo entre as ciências sociais, como a sociologia e a antropologia, as ciências naturais, como a biologia, e áreas científicas mais recentes como as ciências cognitivas e as ciências da saúde.
- Comportamento é a atividade observável dos organismos na sua busca de adaptação ao meio em que vivem.
- Dizer que o indivíduo é a unidade básica de estudo da psicologia significa dizer que, mesmo ao estudar grupos, o indivíduo permanece o centro de atenção - ao contrário, por exemplo, da sociologia, que estuda a sociedade como um conjunto.
Os processos mentais são a maneira como a mente humana funciona - pensar, planejar, tirar conclusões, fantasiar e sonhar. O comportamento humano não pode ser compreendido sem que se compreendam esses processos mentais, já que eles são a sua base. Como toda a ciência, o fim da psicologia é a descrição, a explicação, a previsão e o controle do desenvolvimento do seu objeto de estudo. Como os processos mentais não podem ser observados mas apenas inferidos, torna-se o comportamento o alvo principal dessa descrição, explicação e previsão (mesmo as novas técnicas visuais da neurociência que permitem visualizar o funcionamento do cérebro não permitem a visualização dos processos mentais, mas somente de seus correlatos fisiológicos, ou seja, daquilo que acontece no organismo enquanto os processos mentais se desenrolam). Descrever o comportamento de um indivíduo significa, em primeiro lugar, o desenvolvimento de métodos de observação e análise que sejam o mais possível objetivos e em seguida a utilização desses métodos para o levantamento de dados confiáveis. A observação e a análise do comportamento podem ocorrer em diferentes níveis - desde complexos padrões de comportamento, como a personalidade, até a simples reação de uma pessoa a um sinal sonoro ou visual. A introspecção é uma forma especial de observação (ver mais abaixo o estruturalismo). A partir daquilo que foi observado o psicólogo procura explicar, esclarecer o comportamento. A psicologia parte do princípio de que o comportamento se origina de uma série de fatores distintos: variáveis orgânicas (disposição genética, metabolismo, etc.), disposicionais (temperamento, inteligência, motivação, etc.) e situacionais (influências do meio ambiente, da cultura, dos grupos de que a pessoa faz parte, etc.). As previsões em psicologia procuram expressar, com fundamento nas explicações disponíveis, a probabilidade com que um determinado tipo de comportamento ocorrerá ou não. Com base na capacidade dessas explicações de prever o comportamento futuro se determina também a sua validade. Controlar o comportamento significa aqui a capacidade de influenciá-lo, baseado no conhecimento adquirido. Essa é parte mais prática da psicologia, que se expressa, entre outras áreas, na psicoterapia. Para o psicólogo soviético A. R. Luria, um dos fundadores da neuropsicologia a psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da historia da sociedade e são realizadas pelo cérebro humano incluindo as subjetivas formas da atividade consciente sem substituir essas pelos estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se à descrição exterior dos mesmos. Segundo esse autor, além de estabelecer as leis da sensação e percepção humana, regulação dos processos de atenção, memorização (tarefa iniciada por Wundt), na análise do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considera esses fenômenos como produto da história social (compartilhando, de certo modo com a proposição da Volkerpsichologie de Wundt e com as proposições de estudo simultâneo dos processos neurofisiológicos e determinações histórico-culturais, realizadas de modo independente por seu contemporâneo Vigotsky).




VISÃO GERAL DA DISCIPLINA
E ÁREAS DE ATUAÇÃO



A psicologia é assim uma ciência com uma área de trabalho muito ampla:
- Pesquisa básica é a parte da ciência dedicada ao aumento do conhecimento teórico. Na psicologia ela toma as seguintes formas:
- a. Psicologia geral é o estudo dos processos mentais e das formas de comportamento comuns a todos os seres humanos. A essa área da psicologia estuda: os processos de aprendizagem (psicologia da aprendizagem); as emoções/afetos; os pensamentos, a memória, a cognição e os processos de solução de problemas, a motivação e os processos de tomada de decisão, a linguagem (psicolinguística), e a percepção.
- b. Psicologia diferencial ou psicologia da personalidade é a parte da psicologia que se dedica às características psicológicas em que os seres humanos se diferenciam. Seus principais temas são: a personalidade, a inteligência, o temperamento, as competências individuais. Intimamente ligada a ela está a psicometria, que é o estudo dos métodos adequados de se medir essas características.
- c. Psicofisiologia ou psicologia biológica é o estudo da ligação entre processos corporais (cerebrais e do sistema nervoso (neuropsicologia), hormonais, etc.) e os processos mentais. Ligada a ela se encontra a neurociência.
- d. Psicologia social é o estudo do comportamento e dos processos mentais do indivíduo em grupos.
- e. Psicologia do desenvolvimento é o estudo do desenvolvimento e das transformações que o comportamento e os processos mentais peassam no decorrer da vida. A psicologia do desenvolvimento se divide por sua vez em duas grandes áreas: a mais antiga psicologia do desenvolvimento infanto-juvenil, que se dedica ao desenvolvimento nessa faixa etária e mais recente psicologia do desenvolvimento no decorrer da vida, que se dedica às mudanças que ocorrem na idade adulta, desde a juventude até a idade mais avançada.
- f. Psicologia cultural comparada cross-cultural psychology) é o estudo das diferenças de comportamento e de processos mentais entre pessoas de diferentes culturas. A ela muito próxima se encontram a psicologia cultural, que é o estudo do papel da cultura na formação do comportamento e dos processos mentais, e a psicologia intercultural, que estuda o contato entre pessoas de diferentes culturas.
- Pesquisa aplicada é a parte da ciência que se dedica à solução de problemas práticos com base no conhecimento teórico obtido pela pesquisa básica. Na psicologia recebe o nome de psicologia aplicada e toma as seguintes formas:
- a. Psicologia do trabalho e das organizações dedica-se ao estudo do comportamento e dos processos mentais no ambiente de trabalho.
- b. Psicologia clínica dedica-se ao estudo dos problemas de comportamento e dos processos mentais, com as suas áreas ainda mais práticas: a intervenção, que engloba a psicoterapia, a psicologia da reabilitação e o aconselhamento psicológico, e o trabalho de diagnóstico. Tematicamente próximas, de maneira que por vezes se interpenetram os saberes, estão: a psicanálise, a psiquiatria, a psicofarmacologia e a psicopatologia.
- c. Psicologia pedagógica é o estudo da aplicação do conhecimento psicológico ao ensino, tanto de crianças como de adultos. Uma subdisciplina específica é a psicologia educacional, direcionada ao ensino escolar.
- d. Outras áreas aplicadas, por exemplo, à Comunicação Interpessoal, ao comportamento sexual, à agressividade, ao comportamento em grupo, ao sono e ao sonho, ao prazer e à dor, à propaganda, à seleção e treinamento de pessoal em firmas, à prevenção de doenças, ao treinamento de pessoas que devem trabalhar com pessoas de outra cultura, à integração de imigrantes ou outros grupos à sociedade, ao trabalho forense, à organização do tráfego, etc., além de todos os outros processos psíquicos e comportamentais não citados. As diferentes áreas da psicologia não indicam tanto áreas temáticas separadas, mas antes perpectivas de pesquisa. Assim um mesmo tema - por exemplo, medo - pode ser estudado de diferentes perspectivas por pesquisadores das diferentes áreas.
Além disso, fazem parte da formação do psicólogo um profundo conhecimento de metodologia científica e de história da psicologia.



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BREVE HISTÓRIA
DA PSICOLOGIA





O Pensador de Rodin, em introspecção.



PERSPECTIVAS HISTÓRICAS



"A psicologia possui um longo passado, mas uma história curta". Com essa frase descreveu Herrmann Ebbinghaus, um dos primeiros psicólogos experimentais, a situação da psicologia - tanto em 1908, quando ele a escreveu, como hoje: desde a Antiguidade pensadores, filósofos e teólogos de várias regiões e culturas dedicaram-se a questões relativas à natureza humana - a percepção, a consciência, a loucura. Apesar de teorias "psicológicas" fazerem parte de muitas tradições orientais, a psicologia enquanto ciência tem suas primeiras raízes nos filósofos gregos, mas só se separou da filosofia no final do século XIX. O primeiro laboratório psicológico foi fundado pelo fisiólogo alemão Wilhelm Wundt em 1879 em Leipzig, na Alemanha. Seu interesse se havia transferido do funcionamento do corpo humano para os processos mais elementares de percepção e a velocidade dos processos mentais mais simples. O seu laboratório formou a primeira geração de psicólogos. Alunos de Wundt propagaram a nova ciência e fundaram vários laboratórios similares pela Europa e os Estados Unidos. Edward Titchener foi um importante divulgador do trabalho de Wundt nos Estados Unidos. Mas uma outra perspectiva se delineava: o médico e filósofo americano William James propôs em seu livro The Principles of Psychology (1890) - para muitos a obra mais significativa da literatura psicológica - uma nova abordagem mais centrada na função da mente humana do que na sua estrutura. Nessa época era a psicologia já uma ciência estabelecida e até 1900 já contava com mais de 40 laboratórios na América do Norte.



O ESTRUTURALISMO


Em seu laboratório Wundt dedicou-se a criar uma base verdadeiramente científica para a nova ciência. Assim realizava experimentos para levantar dados sistemáticos e objetivos que poderiam ser replicados por outros pesquisadores. Para poder permanecer fiel a seu ideal científico, Wundt se dedicou principalmente ao estudo de reações simples a estímulos realizados sob condições controladas. Seu método de trabalho seria chamado de estruturalismo por Edward Titchener, que o divulgou nos Estados Unidos. Seu objeto de estudo era a estrutura consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Um dos métodos usados por Titchener era a introspecção: nela o indivíduo explora sistematicamente seus próprios pensamentos e sensações a fim de ganhar informações sobre determinadas experiências sensoriais. A tônica do trabalho era assim antes compreender o que é a mente, do os como e porquês de seu funcionamento. As principais críticas levantadas contra o Estruturalismo foram:
- O ser ele reducionista, ou seja, querer reduzir a complexidade da experiência humana a simples sensações;
- O ser ele elementarista, ou seja, dedicar-se ao estudo de partes ou elementos ao invés de estudar estruturas mais complexas, como as que são típicas para o comportamento humano e
- O ser ele mentalista, ou seja, basear-se somente em relatórios verbais, excluindo indivíduos incapazes de instrospecção, como crianças e animais, do seu estudo. Além disso a introspecção foi alvo de muitos ataques por não ser um verdadeiro método científico objetivo.



FUNCIONALISMO


William James concordava com Titchener quanto ao objeto da psicologia - os processos conscientes. Para ele, no entanto, o estudo desses processos não se limitava a uma descrição de elementos, conteúdos e estruturas. A mente consciente é, para ele, um constante fluxo, uma característica da mente em constante interação com o meio ambiente. Por isso sua atenção estava mais voltada para a função dos processos mentais conscientes. Na psicologia, a seu entender, deveria haver espaço para as emoções, a vontade, os valores, as experiências religiosas e místicas - enfim, tudo o que faz cada ser humano ser único. As idéias de James foram desenvolvidas por John Dewey, que dedicou-se sobretudo ao trabalho prático na educação.


GESTALT, A PSICOLOGIA DA FORMA


Uma importante reação ao funcionalismo e ao comportamentismo nascente (ver abaixo) foi a psicologia da gestalt ou da forma, representada por Max Wertheimer, Kurt Koffka e Wolfgang Köhler. Principalmente dedicada ao estudo dos processos de percepção, essa corrente da psicologia defende que os fenômenos psíquicos só podem ser compreendidos, se forem vistos como um todo e não través da divisão em simples elementos perceptuais. A palavra gestalt significa "forma", "formato", "configuração" ou ainda "todo", "cerne". O gestaltismo assume assim o lema: "O todo é mais que a soma das suas partes". Distinta da psicologia da gestalt, escola de pesquisa de significado basicamente histórico fora da psicologia da percepção, é a gestalt-terapia, fundada por Frederic S. Perls (Fritz Perls).



O LEGADO DOS PRIMÓRDIOS


Apesar de serem perspectivas já ultrapassadas, tanto o estruturalismo como o funcionalismo e a gestalt ajudaram a determinar o rumo que a psicologia posterior viria a tomar. Hoje em dia os psicólogos procuram compreender tanto as estruturas como a função do comportamento e dos processos mentais.


PERSPECTIVAS ATUAIS


Segue uma descrição sucinta das principais correntes de pensamento que influenciam a moderna psicologia. Para maiores informações ver os artigos principais indicados e ainda psicoterapia.



A PERSPECTIVA BIOLÓGICA


A base do pensamento da perspectiva biológica é a busca das causas do comportamento no funcionamento dos genes, do cérebro e dos sistemas nervoso e endócrino. O comportamento e os processos mentais são assim compreendidos com base base nas estruturas corporais e nos processos bioquímicos no corpo humano, de forma que esta corrente de pensamento se encontra muito próxima das áreas da genética, da neurociência e da neurologia e por isso está intimamente ligada ao importante debate sobre o papel da predisposição genética e do meio ambiente na formação da pessoa. Essa perspectiva dirige a atenção do pesquisador à base corporal de todo processo psíquico e contribui com conhecimento básico a respeito do funcionamento das funções psíquicas como pensamento, memória e percepção.



A PERSPECTIVA PSICODINÂMICA


Segundo a perspectiva psicodinâmica o comportamento é movido e motivado por uma série de forças internas, que buscam dissolver a tensão existente entre os instintos, as pulsões e as necessidades internas de um lado e as exigências sociais de outro. O objetivo do comportamento é assim a diminuição dessa tensão interna. A perspectiva psicodinâmica teve sua origem nos trabalhos do médico vienense Sigmund Freud (1856-1939) com pacientes psiquiátricos, mas ele acraditava serem esses princípios válidos também para o comportamento normal. O modelo freudiano foi o primeiro a afirmar que a natureza humana não é sempre racional e que as ações podem ser motivadas por fatores não acessíveis à consciência. Além disso Freud dava muita importância à infância, como uma fase importantíssima na formação da personalidade. A teoria original de Freud, que foi posteriormente ampliada por vários autores mais recentes e influenciou fortemente muitas áreas da psicologia, tem sua origem não em experimentos científicos, mas na capacidade de observação de um homem criativo, inflamado pela idéia de descobrir os mistérios mais profundos do ser humano.

 

 

psicologia

 



A PERSPECTIVA COMPORTAMENTISTA


A perpectiva comportamentista (ou comportamentalista) procura explicar o comportamento em relação aos estímulos do meio ambiente que o influenciam. A atenção do pesquisador é assim dirigida para as condições ambientais em que determinado indivíduo se encontra, para a reação desse indivíduo a essas condições (comportamento) e para as consequências que essa reação traz para ele (ver também condicionamento). O comportamentismo baseia-se sobretudo em experimentos feitos com animais, mas levou ao descobrimento de muitos princípios válidos para o ser humano e foi uma das mais fortes influências tanto para a pesquisa como para a prática psicológica posterior.



A PERSPECTIVA HUMANISTA


Em reação às limitações das correntes caomportamentista e psicodinâmica surgiu nos anos 50 do século XX a perspectiva humanista, que vê o homem não como um ser controlado que por pulsões interiores quer pelo ambiente, mas como um ser ativo, que busca seu próprio crescimento e desenvolvimento. A principal fonte de conhecimento do humanismo psicológico é o estudo biográfico, com o fim de descobrir como essa pessoa vivencia sue existência, ao contrário do comportamentismo, que dava mais valor à observação externa. A perspectiva humanista procura assim um acesso holístico para o ser humano, está intimamente relacionada à fenomenologia e exerceu grande influência sobre a psicoterapia.



A PERSPECTIVA COGNITIVA


A "virada cognitiva" foi uma reação às limitações do comportamentismo, que afirmava ser impossível estudar os processos mentais e se concentrava somente no comportamento. O foco central desta perspectiva é o pensar humano e todos os processos baseados no conhecimento - atenção, memória, compreensão, recordação, tomada de decisão, linguagem etc. A perspectiva cognitiva se dedica assim à compreensão dos processos cognitivos que influenciam o comportamento - a capacidade do indivíduo de imaginar alternativas antes de se tomar uma decisão, de descobrir novos caminhos a partir de experiências passadas, de criar imagens mentais do mundo que o cerca - e à influência do comportamento sobre os processos cognitivos - como o modo de pensar se modifica de acordo com o comportamento e suas consequências. Típico desta perspectiva é o uso sistemático de experimentos científicos e sua proximidade com as ciências da informação e da computação.



A PERSPECTIVA EVOLUCIONISTA


A perspectiva evolucionista procura, inspirada pela teoria da evolução, explicar o desenvolvimento do comportamento e das capacidades mentais como parte da adaptação humana ao meio ambiente. Por recorrer a acontecimentos ocorridos há milhões de anos, os psicólogos evolucionistas não podem realizar experimentos para comprovar suas teorias, mas contam somente com sua capacidade de observação e com o conhecimento adquirido por outras disciplinas como a antropologia e a arqueologia.



A PERSPECTIVA SOCIO CULTURAL


Já em 1927 o antropólogo Bronislaw Malinowski criticava a psicologia - na época a psicanálise de Freud - por ser centrada na cultura ocidental. Essa preocupação de expandir sua compreensão do homem além dos horizontes de uma determinada cultura é o cerne da perspectiva sociocultural. A pergunta central aqui é: em que se assemelham pessoas de diferentes culturas quanto ao comportamento e aos processos mentais, em que se diferenciam? São válidos os conhecimentos psicológicos em outras culturas? Essa perspectiva também leva a psicologia a observar diferenças entre subculturas de uma mesma área cultural e sublinha a importância da cultura na formação da personalidade.




A PERSPECTIVA BIOPSICOSOCIAL
E A MULTIDISCIPLINARIDADE



A enorme quantidade de perspectivas e de campos de pesquisa psicológicos corresponde à enorme complexidade do ser humano. O fato de diferentes escolas coexistirem e se completarem mutuamente demonstra que o homem pode e deve ser estudado, observado, compreendido sob diferentes aspectos. Essa realidade toma forma no modelo biopsicosocial, que serve de base para todo o trabalho psicológico, desde a pesquisa mais básica até a prática psicoterpêutica. Esse modelo afirma que o comportamento e os processos mentais humanos são gerados e influenciados por três grupos de fatores:
- Fatores biológicos - como a predisposição genética e os processos de mutação que determinam o desenvolvimento corporal em geral e do sistema nervoso em particular, etc.;
- Fatores psicológicos - como preferências, expectativas e medos, reações emocionais, processos cognitivos e interpretação das percepções, etc.;
- Fatores socioculturais - como a presença de outras pessoas, expectativas da sociedade e do meio cultural, influência do círculo familiar, de amigos, etc., modelos de papéis socias, etc. Para ser capaz de ver o homem sob tantos e tão distintos aspectos a psicologia se vê na necessidade de complementar seu conhecimento com o saber de outras ciências e áreas do conhecimento. Assim, na parte da pesquisa teórica, a psicologia se encontra (ou deveria se encontrar) em constante contato com a fisiologia, a biologia, a etologia, a neurologia e às neurociências (ligadas aos fatores biológicos) e à antropologia, à sociologia, à etnologia, à história, à arqueologia, à filosofia, à metafísica, à linguística à informática, à teologia e muitas outras ligadas aos fatores socioculturais. No trabalho prático a necessidade de interdisciplinaridade não é menor. O psicólogo, de acordo com a área de trabalho, trabalha sempre em equipes com os mais diferentes grupos profissionais: assistentes sociais e terapeutas ocupacionais; funcionários do sistema jurídico; médicos, enfermeiros e outros agentes de saúde; pedagogos; fisioterapeutas, fonoaudiólogos e muitos outros - e muitas vezes as diferentes áreas trazem à tona novos aspectos a serem considerados. Um importante exmplo desse trabalho interdisciplinar são os comitês de Bioética, formados por diferentes profissionais - psicólogos, médicos, enfermeiros, advogados, fisioterapeutas, físicos, teólogos, pedagogos, farmacêuticos, engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está inserido, e que têm por função decidir aspectos importantes sobre pesquisa e tratamento médico, psicológico, entre outros.




CRÍTICA


O STATUS CIENTÍFICO


A psicologia é frequentemente criticada pelo seu caráter "confuso" ou "impalpável". O Filósofo Thomas Kuhn afirmou em 1962 que a psicologai em geral estava em um estágio "pré-paradigmático" por lhe faltar uma teoria de base unanimemente aceita, como é o caso em outra ciências mais maduras como a física e química. Por grande parte da pesquisa psicológia ser baseada em entrevistas e questionários e seus resultados terem assim um caráter correlativo que não permite explicações causais, alguns críticos a acusam de não ser científica. Além disso muitos dos fenômenos estudados pela psicologia, como personalidade, pensamento e emoção, não podem ser medidos diretamente e devem ser estudados com o auxílio de relatórios subjetivos, o que pode ser problemático de um ponto de vista metodológico. Erros e abusos de testes estatísticos foram sobretudo apontados em trabalhos de psicólogos sem um conhecimento aprofundado em psicologia experimental e em estatística. Muitos psicólogos confundem significância estatística (ou seja, uma probabilidade maior do que 95% de o resultado obtido não ser fruto do acaso, mas corresponder à realidade empírica) com importância prática. No entanto a obtensão de significados estatísticamente significante mas na prática irrelevantes é um fenômeno comum em estudos envolvendo um grande número de pessoas. Em resposta muitos pesquisadores começaram a fazer uso do "tamanho do efeito" estatístico (effect size) como massa de medida da relevância prática. Muitas vezes os debates críticos ocorrem dentro da própria psicologia, por exemplo entre os psicólogos experimentais e os psicoterapeutas. Desde há alguns anos tem aumentado a discussão a respeito do funcionamento de determinadas técnicas psicoterapêuticas e da importância de tais técnicas serem avaliadas com métodos objetivos. Algumas técnicas psicoterapêutica são acusadas de se basearem em teorias sem fundamento empírico. Por outro lado muito tem sido investido nos últimos anos na avaliação das técnicas psicoterapêuticas e muitas pesquisas, apesar de também elas terem alguns problemas metodológicos, mostram que as psicoterapias das escolas psicológicas tradicionais (mainstream), isto é, das escolas mencionadas mais acima neste artigo, são efetivas no tratamento dos transtornos psíquicos.



TERAPIAS "ALTERNATIVAS"
NÃO PSICOLÓGICAS


Um dos maiores problemas relacionados à distância que separa a teoria científica da psicologia e sua prática terapêutica é a multiplicação indiscriminada do números de "terapias alternatives" que se vê atualmente, muitas das quais baseadas em princípios de origem duvidosa e não pesquisados. Muitos autoresjá haviam apontado o grande crescimento no número de tratamentos e terapias realizados sem treinamento adequado e sem uma avaliação científica séria. Lilienfeld (2002) constata com preocupação que "uma grande variedade de métodos psicoterapêuticos de funcionamento duvidoso e por vezes mesmo danosos - incluindo "comunicação facilitada" (facilitated communication) para o autismo infantile, técnicas sugestivas para recuperação da memória, (ex. regressão etária hipnótica, trabalhos com a imaginação, bodywork), terapias energéticas (ex. thought field therapy, emotional freedem technique...) e terapias new-age de todos os tipos possíveis (ex. rebirthing, reparenting, regressão de vidas passadas, terapia do grito original (primal scream therapy), programação neurolinguística, terapia por abdução alienígena (alien abduction therapy), terapia dos anjos) – surgiram ou mantiveram sua popularidade nas últimas décadas." Allen Neuringer (1984) fez críticas semelhantes partindo da análise experimental do comportamento.



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A DESINTEGRAÇÃO DE ESTRUTURAS
FAMILIARES TRADICIONAIS



Célia Fenn

Muitos de vocês que vivem no planeta hoje em dia, estão em grande sofrimento por causa do stress e das cóleras/iras presentes nas vossas famílias. O Arcanjo Miguel pediu-me para partilhar a seguinte informação com vocês, para poderem melhor perceber a razão deste sofrimento, e para aonde se estão a dirigir no futuro.

MÓDULO FAMILIAR
TRADICIONAL


O módulo do núcleo familiar tradicional pertence ao passado do Planeta. Foi uma estrutura desenvolvida para servir as necessidades da humanidade no passado. As necessidades naquela altura eram poder e proteção – e por isso um sistema foi desenvolvido que deu ao macho a função de protector. Em retribuição a esta tarefa, ele manteve poder sobre os outros membros da sua família.
No entanto, os humanos evoluiram a um ponto em que a igualdade entre macho e fêmea é reconhecida, e onde a igualdade das crianças será em breve reconhecida também.
Neste novo paradigma da Nova Terra, os módulos nucleares familiares tradicionais já não se encaixam. Estão a se desintegrar e a desaparecer.
Neste processo, muitos de vocês se sentem confusos e desorientados à medida que sentem ira e dor. Pergunta-se a vós mesmos o que estão a fazer de “errado” ou porque não conseguem “curar” a situação. Nós dizemo-vos, meus caros, que não há nada para curar. Apenas novas escolhas a tomar. Novas escolhas que vão ajudar-vos a criar famílias e comunidades que são amorosas e solidárias.


CONTRATO EM SOCIEDADE
E CONTRATO DE PAIS



Na Nova Terra, quando uma pessoa deseja educar uma criança, ele ou ela entra num “Contrato de Educação”. Este será distinto e diferente de um “Contrato em Sociedade” que vai substituir o casamento como sistema de suporte e co-habitação. Um Contrato em Sociedade será negociado entre duas pessoas que se sentem atraídas uma por a outra a nível de alma e que desejam viver juntos as suas vidas. Geralmente, isto vai envolver algum crescimento ou trabalho partilhado. Um Contrato em Sociedade pode sucessivamente levar à negociação de um Contrato de Pais – mas nós desejamos que vocês percebam que no futuro, a educação ou acompanhamento parental não será limitado a sociedades entre seres masculinos e femininos. Acompanhamento parental está disponível a qualquer ser afectuoso que sente que dar expressão fisíca ou educar uma alma encarnada é uma vocação para eles (as). Um contrato de acompanhamento parental é essencialmente entre os Pais/Educadores e a alma da criança que está para vir. No entanto, se duas pessoas concordarem tornarem-se os pais biológicos, então elas podem entrar no contrato como co-educadores. O contrato requer amor, apoio, respeito mútuo e carinho. Como também reconhecimento mútuo dos dons naturais que cada lado trás à criação do módulo criança/educador. E a igualdade destes dons. Uma pessoa solteira também pode entrar num contracto de pais como um pai/mãe/educador único. Neste caso o contracto é entre a criança e o pai/mãe único como sendo o único auxiliar e educador. Nos Contratos de Pais não existe hierarquia ou estruturas de poder – apena uma troca mútua de amor e sabedoria em que cada lado reconhece o cargo de dar suporte ao outro. O pai/mãe proporcionam a educação física e as habilidades de vida necessárias para viver no planeta no presente momento. A criança traz dádivas espirituais avançadas e o ímpeto evolutivo aos pais. Cada um dota o outro com a sua presença e os seus ensinamentos.



FAMÍLIA DA ALMA



Familias de alma por seu turno vão criar um novo conceito de comunidade. Embora a sociedade da Nova Terra vá ser baseada na crença de “Um” e em unidade planetária, as pessoas ainda vão viver por um bom bocado em diferentes níveis de consciência. E a mudança de um nível de consciência para outro nível pode significar a libertação de um grupo de “família” e estruturas de amizade para encontrar um novo grupo que esteja mais em harmonia com a ressonância da vossa alma. Este é um processo que está a acontecer rapidamente no presente momento. As pessoas estão sendo atraídas juntas pela sua ressonância de alma e trabalho de alma mútuo. Mas também a ter de deixar relações e amizades que duraram por muitos anos mas que já não são harmoniosas nos níveis mais profundos. Enquanto isto pode ser um processo caótico e doloroso, também vai levar à criação de maravilhosas sociedades novas e comunidades baseadas em amor, respeito e apoio mútuos. Muitos grupos de alma que podem ter encarnado em diferentes lugares no planeta, estão agora a encontrar-se e a conectar-se através de novas tecnologias como a Internet. Estas comunidades de almas estão a ajudar as pessoas a perceber que mesmo que haja poucas pessoas à volta delas que carreguem as mesmas energias, existem muitas outras pessoas pelo planeta que pensam e se sentem da mesma maneira. E à medida que estas pessoas se unem e se juntam em amor e apoio umas às outras – elas formam uma rede radiante de amor e luz que apoia cada membro na rede. E este é o milagre do momento do Agora/Futuro – uma vez que se tenham ligado à rede Cristal de amor, podem sempre servir-se desta energia de apoio da vossa “família de alma” que está ligada a vocês por esta rede ou teia. Nunca mais estarão sozinhos e nunca mais se sentirão não amados ou desapoiados. Bem vindos à Nova Terra – aonde cada ser Cristal de Luz apoia e ama todos os outros seres de Luz Bem vindos à Comunidade de Vida da Nova Terra!



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JUNG E OS CONCEITOS BÁSICOS
DA PSICOLOGIA ANLÍTICA

 


Vanilde Gerolim Portillo


Psicologia Analítica foi o nome escolhido por JUNG para abarcar todo o seu sistema teórico. É uma obra ampla e tem raízes profundas. Abordaremos, aqui, portanto, apenas os conceitos que ajudarão a elucidar este trabalho.
O que nos chama a atenção, ao contatarmos a obra de Jung, é que os termos ou nomes adotados por ele, para discriminar seus conceitos, têm perfeita conexão com o fato ou com o aspecto analisado em si. Não são termos inventados ao acaso e que nada significam, mas sim termos que carregam e explicam o seu próprio conteúdo.
Jung foi sujeito de suas próprias experiências no que se refere à investigação do inconsciente.  Tudo o que ocorria com ele, incluindo os sonhos, fantasias, intuições, etc., que para a maioria das pessoas passaria despercebido, era para Jung uma fonte de pesquisa e análise.  Homem extremamente intuitivo, sempre se interessou pelos fenômenos psíquicos.
Foi médico e psiquiatra; nasceu na cidade de Keswill, na Suíça em 26/07/1875 e viveu até 06/06/1961.
Conviveu com Bleuler, Adler, Freud e outros grandes nomes da psiquiatria.  Fora da área médica, Jung manteve contatos e trocou idéias com grandes gênios como Einstein, Pauli, e outros.  Estudou profundamente os grandes filósofos como Schopenhauer, Nitzsche e  Kant.
Foi buscar lastro para suas idéias na Alquimia, na Mitologia, nos povos primitivos da Ásia, África e Índios Pueblos da América do Norte.  Visitou, entre tantos lugares,  a Índia em busca de respostas para suas dúvidas mais íntimas.
Filho de religiosos, seu pai era pastor luterano, desde cedo teve contato com a idéia de um Deus e bem cedo começou o questionamento sobre a origem e a finalidade da vida humana, perguntas para as quais não obteve resposta através de seu pai, nem tão pouco nos livros religiosos e escritos da época.
Jung aproximou-se da filosofia e religiões orientais, conheceu e estudou o I Ching e encontrou ressonância nos simbolismos destas culturas na compreensão do desenvolvimento humano. Introduziu uma nova maneira de praticar a psicologia clínica, uma nova visão de mundo e do homem.  Salientava, sempre que tinha oportunidade, que o homem deveria ser visto por inteiro, ou seja, como um todo; pertencente a uma comunidade, num determinado momento, não poderia, portanto, ser visto, dissociado do seu contexto social, cultural e universal.
Quando Jung manteve contato com a obra de Freud, ficou tão entusiasmado com o trabalho deste outro gênio que não tardou em conhecê-lo.
A admiração foi mútua, Freud também gostou do jovem Suíço e logo fez dele um dos difusores de suas idéias. O “casamento”, porém,  durou pouco.
Jung mostrava-se inquieto com algumas posições de Freud a respeito, principalmente, da teoria da libido.  Freud, por sua vez, não admitia ver a sua teoria por outro ângulo, não dava abertura para outras interpretações diferentes das dele.
Jung não aceitava as insistências de Freud, de que as causas dos conflitos psíquicos envolveriam algum trauma sempre de natureza sexual.  Freud, por outro lado, não admitia o interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo em si.
O rompimento entre os dois causou profundas mágoas para ambos os lados. Mágoas que, até hoje, notam-se entre os seguidores de ambos.  Não é raro deparamos com críticas sobre um ou outro nos jornais, ou obras literárias ironizando um dos dois.
O rompimento de Jung com Freud, entretanto, acaba por trazer ao mundo um grande benefício.  Jung teve que alçar vôo sozinho em busca de respostas para si mesmo e, de certa forma, para provar que suas idéias eram válidas e as de Freud tinham valores parciais, mergulhou no mais profundo de sua alma, conectou-se com seu inconsciente e buscou lá inspiração e coragem parar mudar a face da psicologia.
O ponto crucial do desentendimento entre os dois gênios foi ponto de partida para Jung.  Enquanto a teoria de Freud busca as causas, a de Jung busca a direção, a finalidade.  Enquanto para Freud a libido é somente sexual, para Jung a libido é toda a energia psíquica.  Nise da Silveira descreve libido da seguinte maneira: “Libido é apetite, é instinto permanente de vida que se manifesta pela fome, sede, sexualidade, agressividade, necessidades e interesses diversos”. Tudo isso está compreendido no conceito de libido. A idéia Junguiana de libido aproxima-se bastante da concepção de vontade, segundo Schopenhauer. Entretanto Jung não chegou a essa formulação através dos caminhos da reflexão filosófica. Foi a ela conduzido pela observação empírica, no seu trabalho de médico psiquiatra.
Uma das maiores preocupações de Jung era a de sempre manter um “pé” na ciência, buscava sempre comprovar suas idéias, pois além de confrontar-se com as idéias do principal nome de então, Freud, tinha que se confrontar com a existente e crescente racionalidade da época.


O conceito de inconsciente também difere de Freud para Jung.  Para Freud, o inconsciente é um depósito de rejeitos do consciente, isento de movimento e estático, se forma, portanto, a partir do consciente.  Para Jung o inconsciente existe “a priori”.


O ser humano nasce inconsciente e traz com ele muitos conteúdos herdados dos ancestrais.  Assim, o inconsciente existe “antes”, é pré-existente ao consciente.  Segundo Nise da Silveira, “Pode-se representar a psique como um vasto oceano (inconsciente) no qual emerge pequena ilha (consciente).”
Para Jung, o inconsciente não é estático e rígido formado pelos conteúdos que são reprimidos pelo ego. Ao contrário, o inconsciente é dinâmico, produz conteúdos, reagrupa os já existentes e trabalha numa relação compensatória e complementar com o consciente.  No inconsciente encontram-se, em movimento, conteúdos pessoais, adquiridos durante a vida e mais as produções do próprio inconsciente. Jung classificou o inconsciente em Inconsciente Pessoal (ou Individual) e Inconsciente Coletivo.  O  Inconsciente Pessoal ou Individual é aquela camada mais superficial de conteúdos, cujo marco divisório com o consciente não é tão rígido.  É uma camada de conteúdos que se acha contígua ao consciente.  Estes conteúdos subjazem no inconsciente por não possuírem carga energética suficiente para emergir na consciência.  Correspondem àqueles aspectos que em algum momento do desenvolvimento da personalidade não foram compatíveis com as tendências da consciência e foram, portanto reprimidas.  Também estão, no inconsciente pessoal, percepções subliminares, ou seja, aquelas que foram captadas pelos nossos sentidos de forma subliminar, que nem nos demos conta de termos contato com o fato em si.  Conteúdos da memória que não necessitam estar presentes constantemente na consciência estão presentes no inconsciente pessoal. Todos estes conteúdos formam no Inconsciente Pessoal um grande banco de dados que poderão surgir na consciência a qualquer momento.
Outros importantes conteúdos estão no inconsciente pessoal; são os complexos.  Os complexos são conteúdos de extrema importância para a vida psíquica e estaremos abordando-os no decorrer do trabalho. 
A grande descoberta de Jung foi o Inconsciente Coletivo. Segundo ele, o inconsciente coletivo é a camada mais profunda da psique e constitui-se dos materiais que foram herdados da humanidade.  É nesta camada que existem os traços funcionais como se fossem imagens virtuais, comuns a todos os seres humanas e prontas para serem concretizadas através das experiências reais.  É nessa camada do inconsciente que todos os humanos são iguais. A existência do inconsciente coletivo não depende de experiências individuais, como é o caso do inconsciente pessoal, porém, seu conteúdo precisa das experiências reais para expressar-se, já que são predisposições latentes.

Jung chamou de arquétipos a estes traços funcionais do inconsciente coletivo.  Salienta  ele: “ Existem tantos arquétipos quantas as situações típicas da vida. Uma repetição infinita gravou estas experiências em nossa constituição psíquica, não sob a forma de imagens saturadas de conteúdo, mas a princípio somente como formas sem conteúdo que representavam apenas a possibilidade de um certo tipo de percepção e de ação.”
Os arquétipos não são observáveis em si, só podemos percebê-los através das imagens que ele proporciona. Continua Jung: “Imagens” expressam não só a forma da atividade a ser exercida, mas também, simultaneamente, a situação típica no qual se desencadeia a atividade. Tais imagens são “imagens primordiais”, uma vez que são peculiares à espécie, e se alguma vez foram “criadas”, a sua criação coincide no mínimo com o início da espécie. O típico humano do homem é a forma especificamente humana de suas atividades. O típico específico já está contido no germe. A idéia de que ele não é herdado, mas criado de novo em cada ser humano, seria tão absurda quanto a concepção primitiva de que o Sol que nasce pela manhã é diferente daquele que se pôs na véspera.”
Jung salienta que o mérito da observação de que os arquétipos existem não pertence a ele e sim a PLATÃO, com seu pensamento “de que a idéia é preexistente e supra-ordenada aos fenômenos em geral.” Outros pensadores como ADOLF Bastian, evidenciam a ocorrência de certas “idéias primordiais...” e outros, mais tarde, como DÜRKHEIM, HUBERT e MAUSS “que falam de “categorias” próprias da fantasia” e ainda Hermam USENER que reconhece “a pré-formação inconsciente na figura de um pensamento inconsciente”
A contribuição de Jung se dá, entretanto, nas provas obtidas por ele, que os arquétipos existem e aparecem sem influência de captação externa.  De acordo com Jung esta constatação “significa nada menos do que a presença, em cada psique, de disposições vivas inconscientes, e, nem por isso menos ativas, de formas ou idéias em sentido platônico que instintivamente pré-formam e influenciam seu pensar, sentir e agir.”
Alguns arquétipos foram amplamente enfatizados por Jung, pois permeiam o desenvolvimento da personalidade e invariavelmente estão bem próximo de nós, no nosso dia-a-dia e são mobilizados, pela psique, tão logo surja uma situação típica.  Falaremos sobre cada um deles a seguir, a exceção do Arquétipo materno que será abordado no capítulo III.
Com o desenvolvimento da consciência, o ser humano, que é gregário por natureza, necessita desenvolver algumas características básicas para a adaptação social em contraste com seus instintos animalescos.  É a persona o arquétipo desta adaptação.
O nome vem da antiga máscara usada no teatro grego para representar esse ou aquele papel numa peça e tem, para Jung, o mesmo sentido, ou seja; persona é a máscara ou fachada aparente do indivíduo exibida de maneira a facilitar a comunicação com o seu mundo externo, com a sociedade onde vive e de acordo com os papéis dele exigidos.  O objetivo principal é o de ser aceito pelo grupo social a que pertence. 
A persona é muito importante, na medida em que dependemos dela em nossos relacionamentos diários, no trabalho, na roda de amigos ou na convivência com o nosso grupo.
Como qualquer outro componente psíquico, a persona possui um lado benéfico e outro maléfico.  Em seus aspectos benéficos, a persona auxilia a convivência em sociedade, extremamente importante em nossos atuais dias. Também transmite uma certa sensação de segurança, na medida em que cada um desempenha exatamente o papel dele esperado, da melhor forma possível.  Assim, espera-se de um médico que se comporte como tal, que atenda o paciente e que o cure dos males que o atingem. De um bombeiro, que seja solícito e enfrente, sem grandes medos os incêndios, e assim por diante.
No sentido nefasto da persona, há o perigo de o indivíduo identificar-se com o papel por ele desempenhado fazendo com que a pessoa se distancie de sua própria natureza.  Um médico, por exemplo, não é médico o tempo todo. Em casa é o pai, o marido, o filho e assim outras máscaras ele estará utilizando.  Aqueles que são possuídos por sua persona, tornam-se pessoas difíceis de conviver, são rígidos em sua persona e exigem dos demais que se comportem igual a ele.
A persona serve também como proteção contra nossas características internas as quais achamos que nos desabonam e, portanto, queremos esconder.

Como a psique possui uma dinâmica de compensação energética entre os seus conteúdos, podemos entender que, em uma super valorização da persona, haverá, internamente, uma forte tendência à compensação através de outros arquétipos, são eles:  sombra e anima/animus.
Sendo a persona a face externa da psique, a face interna, a formar o equilíbrio são os arquétipos da anima e animus.  O arquétipo da anima, constitui o lado feminino no homem, e o arquétipo do animus constitui o lado masculino na psique da mulher.  Ambos os sexos possuem aspectos do sexo oposto, não só biologicamente, através dos hormônios e genes, como também, psicologicamente através de sentimentos e atitudes.
O homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem de uma ou de outra mulher especificamente, mas sim uma imagem arquetípica, ou seja, formada ao longo da existência humana e sedimentada através das experiências masculinas com o sexo oposto.
Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de animus através das experiências com o homem durante toda a evolução da humanidade.
Embora, anima e animus desempenhem função semelhante no homem e na mulher, não são, entretanto, o oposto exato. Segundo Humbert, “Anima e animus não são simétricos, têm seus efeitos próprios: possessão pelos humores para a anima inconsciente, pelas opiniões para o animus inconsciente.”
A anima, quando em estado inconsciente pode fazer com que o homem, numa possessão extrema, tenha comportamento tipicamente feminino, como alterações repentinas de humor, falta de controle emocional.
Em seu aspecto positivo a anima, quando reconhecida e integrada à consciência, servirá como guia e despertará, no homem o desejo de união e de vínculo com o feminino e com a vida.  A anima será a “mensageira do inconsciente” tal como o deus Hermes da mitologia Grega.
A valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá provocar uma anima ou animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de energia, atuando no inconsciente.
Um animus atuando totalmente inconsciente poderá se manifestar de maneira também negativa, provocando alterações no comportamento e sentimentos da mulher.  Segundo Jung: “em sua primeira forma inconsciente o animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, não premeditadas; exerce influência dominante sobre a vida emocional da mulher.”
O animus e a anima devidamente reconhecidos e integrados ao ego, contribuirão para a maturidade do psiquismo. Jung salienta que o trabalho de integração da anima é tarefa difícil. Diz ele: “Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o confronto com a anima é obra-prima. A relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que se mantinham foram de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções.”
Anima e animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo oposto.  Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos são feitos em forma de projeções.
O homem, quando se apaixona por uma mulher, está projetando a imagem da mulher que ele tem internalizada.  É fato que a pessoa que recebe a projeção é portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita perfeitamente.  O ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção do objeto externo.  Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como suporte da projeção de seus próprios conteúdos internos.
Para o homem a mãe é o primeiro “gancho” a receber a  projeção da anima, ainda quando menino, o que se dá inconscientemente.  Depois, com o crescimento e sua saída do ninho, o filho vai, aos poucos, retirando esta projeção e lançando-a a outras mulheres que continua sendo um processo inconsciente.  A qualidade, do relacionamento mãe-filho, será essencial e determinará a qualidade dos próximos relacionamentos, com outras mulheres. Salienta Jung:  “Para o filho, a anima oculta-se no poder dominador da mãe e a ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os atos mais arrojados.”
Outros aspectos do relacionamento mãe-filho serão analisados no capítulo subseqüente.
Jung define projeção da seguinte forma: “A projeção é um processo inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça pertencer ao objeto.  A projeção cessa no momento em que se torna consciente, isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito.”
 Enquanto a anima ou animus, projeta-se no sexo oposto, determinando a qualidade das relações entre os sexos, a sombra influirá nas relações com pessoas do mesmo sexo.
A sombra apresenta-se como o mais poderoso de todos os arquétipos, já que é a fonte de tudo o que existe de melhor e de pior no ser humano.  Como todo e qualquer elemento psíquico, a sombra possui aspectos positivos e negativos para o desenvolvimento da personalidade.
Se a persona é desenvolvida com o objetivo de facilitar a convivência do homem na sociedade onde vive, onde, então, se apresentarão aqueles conteúdos não compatíveis com esta adaptação?  A sombra é o arquétipo receptáculo dos aspectos que foram suprimidos no desenvolvimento da persona, e mais que isto, ela contém conteúdos que nem chegaram a passar pelo crivo do consciente. Estes conteúdos podem, potencialmente, emergir a qualquer momento na consciência, se considerados do ponto de vista energético.
Quanto mais unilateral se torna o consciente; tanto mais a persona é banhada de purpurina e mais acentuados são os elementos que compõem a sombra.  Importante salientar, no entanto, que a sombra não é o lado oposto da consciência, mas representa o que falta a cada personalidade consciente.
Um dos maiores trabalhos no processo de individuação, que consiste no desenvolvimento da personalidade total,  é sem dúvida a integração da sombra na consciência.  Uma vez reconhecida, a sombra, como parte de si mesmo, o ser humano irá fazê-lo constantemente, pois os conteúdos sombrios não se esgotam, porque sempre que houver processo de escolha, consciente, haverá também, o lado que ficou negligenciado ou não escolhido, aquele que poderia ter sido vivido e não foi.  Neste sentido, a sombra estará sempre ao lado do indivíduo e focaliza o resultado de suas escolhas.
Normalmente, reconhecer a sombra implica em “arrumar encrenca” e colocar em questionamento toda a consciência de si: os hábitos, crenças, valores, afetividade, etc. É um mergulho no desconhecido, é ficar sem chão, é perder o apoio.
Sendo o confronto com a sombra um dos primeiros aspectos do processo de individuação, é necessário um ego bem estruturado para reconhecer que tudo aquilo que projetamos nos outros, principalmente as coisas que menos gostamos, são nossas e de mais ninguém.
A sombra não possui, porém, somente aspectos negativos e rejeitados. Possui também aspectos que impulsionam o ser humano para a criatividade e busca de soluções, quando os recursos conscientes se esgotaram. Por sorte, a sombra é insistente e não se sente acuada com a repressão exercida pela consciência. Sempre arranja um jeito de se manifestar, a inspiração é uma destas maneiras. Uma vida sem a presença da sombra torna-se sem brilho e sem criatividade. 
Quando, para a nossa adaptação social, desenvolvemos a persona, somos obrigados a descartar vários aspectos que não condizem com a atitude da consciência naquele momento.  Estes aspectos poderão ser úteis em outra época de nossas vidas, poderão voltar, uma vez que não serão mais prejudiciais à nossa adaptação e poderão mudar o rumo de nossa história.
A sombra, quando trabalha em harmonia com o ego, deixa a vida mais colorida e rica.
Jung mergulhava em seu próprio inconsciente e trazia à luz, aspectos que o ajudavam a entender o seu mundo e de seus pacientes.  Muitas vezes observou, nos sonhos e fantasias dos pacientes e nas suas próprias fantasias, que os temas eram recorrentes, cujas diferenças ficavam a cargo das experiências individuais de cada um, mas o cerne do tema era o mesmo.  Ao estudar mitologia entendeu que o mito é uma projeção do inconsciente coletivo e refez a história de muitos deuses e heróis da mitologia através de uma visão psicológica.  Viu no mito uma forma de expressão do inconsciente e passou a utilizá-los no entendimento de suas própria fantasias e sonhos, como também de seus pacientes.
A grande busca de Jung consistia em conhecer a si mesmo e o significado da vida.  Em suas pesquisas, percebeu que a psique trilha um único objetivo, que é o encontro com seu próprio centro, a unicidade, é o retorno do ego às suas origens.  Deu então a esse objetivo da vida psíquica o nome de Individuação, que não é repentino, mas sim, se apresenta como um processo.
A motivação para a individuação é inata, porém o processo, em si, só se dá no confronto do consciente com o inconsciente, o que resulta num amadurecimento dos componentes da personalidade e na união destes numa síntese, como também na realização de um indivíduo único e inteiro.
O processo de individuação é o eixo da psicologia Junguiana.  É através dele que a pessoa vai se conhecendo, retirando suas máscaras, retirando as projeções lançadas anteriormente no mundo externo e integrando-as a si mesmo.  Não se trata de um processo fácil e simples, nem tampouco ocorre linearmente.  É um processo doloroso, difícil e ocorre em um movimento circunvolutório direcionado a um novo centro psíquico, o Self.
O Self é o centro de toda a personalidade.  Dele emana todo o potencial energético de que a psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos. Conforme Hall observa “O Self é o principal arquétipo do inconsciente coletivo, assim como o sol é o centro do sistema solar. O Self é o arquétipo da ordem, da organização e da unificação; atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência, une a personalidade, conferindo-lhe um senso de “unidade” e firmeza.”
O objetivo de toda personalidade é chegar ao autoconhecimento que é conhecer o próprio Self. Jung conceituou o Self da seguinte forma:  “O Self representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não.”
Jung buscou na Alquimia o respaldo para, de certo modo, validar sua teoria da individuação.  Percebeu que o aspecto simbólico da alquimia representa o processo de individuação, onde o alquimista busca, através de etapas, encontrar o ouro. Não se trata, entretanto, do ouro enquanto metal precioso, porém de sua simbologia enquanto preciosidade, numinosidade.
Jung reconhece que a individuação, embora seja um impulso inato, só é possível quando da participação do ego, formando o eixo ego-Self, um depende do outro.  O ego é a maneira que a consciência tem de tomar conhecimento do Self e sem este conhecimento não haverá integração de conteúdos inconscientes, nem tão pouco individuação como uma “expansão da consciência”.
Enquanto Jung trabalhava no hospital de Burgholzli, em 1900, organizou um laboratório experimental de psicopatologia com o objetivo de investigar reações psíquicas, através de um teste desenvolvido por ele; “Teste de Associação de Palavras”.  Os resultados deste teste levaram Jung a formular, mais tarde, a teoria dos complexos.
Para Jung os complexos são os caminhos que nos permite chegar ao inconsciente.  “A via regia que nos leva ao inconsciente, entretanto, não são os sonhos, como ele [Freud] pensava, mas os complexos, responsáveis pelos sonhos e sintomas.”
Portadores de uma carga energética substancial, os complexos têm como núcleo o arquétipo e, em torno deste núcleo vão se concentrando idéias ou pensamentos cheios de afetividade.  Estruturam-se como entidades autônomas quando uma parte da psique for cindida por causa de um trauma, um choque emocional ou um conflito moral.  Quando totalmente inconscientes atuam livremente e podem tomar o ego.  Geralmente, aquelas situações em que ocorrem alterações da consciência e também comportamentais, sem motivo aparente, são manifestações da possessão do complexo sobre o ego.
Jung salienta que pode se dizer dos complexos em termos científicos, o seguinte; “...o complexo emocionalmente carregado é a imagem de uma determinada situação psíquica com uma carga emocional intensa que se mostra, assim, incompatível com a habitual disposição ou atitude da consciência. Essa imagem é dotada de certa coesão interna, possui sua própria totalidade e dispõe, ainda, de um grau relativamente alto de autonomia. Isto é, está muito pouco sujeita às disposições da consciência e, por isso, comporta-se na esfera da consciência como um corpus alienum (corpo alheio) cheio de vida...”
Os complexos não são em si negativos, seus efeitos, no entanto, poderão ser.  Porém como são nós de energia que possibilitam a movimentação da psique acabam por se tornarem grandes aliados que impulsionam o ser humano para o desenvolvimento psíquico. Podemos superar um complexo vivendo-o intensamente e compreendendo o papel que exercem nos padrões de comportamento e nas reações emocionais.  No seu sentido positivo, os complexos poderão ser uma fonte de inspiração para futuras realizações.  Von Franz descreve os complexos da seguinte maneira:  “Os complexos são os motores da psique. São como diferentes núcleos, que impulsionam e vitalizam a psique. Se não tivéssemos complexos, estaríamos mortos.”
Não existe um número fechado de complexos sobre os quais poderíamos discorrer, porém existem aqueles que, pela sua constelação mais freqüente, são mais fáceis de serem analisados, como o complexo materno, o complexo paterno, o complexo de poder, o complexo de inferioridade, o de superioridade, etc.
Para Jung, o Ego é um complexo; o “complexo do ego”.  Diz ele, sobre o Ego: “É um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral de nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registros de nossa memória. Todos temos uma certa idéia de já termos existido, quer dizer, de nossa vida em épocas passadas; todos acumulamos uma longa série de recordações. Esses dois fatores são os principais componentes do ego, que nos possibilitam considerá-lo como um complexo de fatos psíquicos.”
O complexo do ego, entretanto, é diferente dos outros complexos, porque se impõe como centro da consciência e atrai para si os demais conteúdos conscientes, visa também, mais do que outro complexo, a totalidade.
Embora a psique seja composta de estruturas bastante diversas, muitas vezes se opondo umas às outras, existe entre elas uma forte interação que poderão se dar de três formas.  Uma estrutura pode compensar a fraqueza da outra, um componente pode se contrapor a outro, e duas ou mais estruturas podem se unir formando uma síntese.  A compensação pode se dar, por exemplo, entre o ego e a anima de um homem, assim como o ego e o animus de uma mulher.  O ego normal do homem é masculino enquanto a anima é feminina e na mulher sendo o ego feminino o animus é masculino.  Assim, uma masculinidade exacerbada num homem pode estar mostrando um inconsciente frágil, delicado e sensível, neste caso o inconsciente atua de maneira compensatória proporcionando uma espécie de equilíbrio entre os elementos contrastantes, evitando uma desintegração da psique.
As tensões oriundas dos conflitos entre as instâncias da psique são inevitáveis e imprescindíveis, pois, são elas que constituem a própria essência da vida.   Os conflitos existem porque existem oposições em qualquer parte da personalidade e o ego deve atender às exigências externas da sociedade e as exigências internas do inconsciente coletivo.  Jung achava que sempre era possível haver uma união dos contrários e com isso surgir um terceiro elemento da síntese dos dois numa função que ele chamou de função transcendente. Segundo Hall,   “Essa função é dotada da capacidade de unir todas as tendências contrárias da personalidade e de trabalhar para que se atinja a meta da totalidade.”
Os conceitos apresentados neste capítulo constituem os princípios básicos da Psicologia Analítica na qual me oriento para a execução deste trabalho.  A teoria Junguiana da personalidade humana é muito mais ampla do que o aqui exposto e vale a pena ser estudada mais profundamente, entretanto, os conteúdos aqui considerados são suficientes para o desenvolvimento do trabalho.

Vanilde Gerolim Portillo
- Psicóloga Clínica
- Pós-Graduada e Especialista Junguiana
- Atende em seu consultório em São Paulo: (11) 2979-3855



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A ALQUIMIA COMO
PROCESSO INTERIOR - JUNG




Claudia Araujo


"Escuro e nebuloso é o início de

todas as coisas, mas não o seu fim."
Kalil Gibran Kalil

Nas últimas décadas temos sido bombardeados com citações alquímicas além de textos e imagens do mesmo teor. Na realidade, muito se fala em alquimia. Entretanto, todo esse material, nos reporta à figura do velho alquimista, o químico original, em meio às suas retortas, caldeirões, alambiques, tratados, sem que sejamos participados de que todos nós em alguma medida somos alquimistas, ou seja, que os alquimistas somos nós.
A dona de casa, ao entrar em sua cozinha, mexer a panela, equilibrar os condimentos e alimentos, está alquimizando, transformando os elementos e criando algo novo a partir daquela mistura. Qualquer um de nós, ao nos buscarmos, nos aperfeiçoarmos, em transformação, estamos sendo alquimistas, gerando vida nova e criando uma nova realidade psicológica.
Seria interessante ressaltar que a Alquimia nada mais é do que a transformação dos elementos de ordem física ou psicológica, até que se crie algo novo ou vida nova.
A nível psicológico, também vivemos processos alquímicos interiores, somos muitas vezes alquimizados através do amor, do ódio, de uma paixão de qualquer natureza pela qual somos acometidos, ou mesmo através de situações de impotência ou angústia.


"Essa matéria está diante de todos;
todas as pessoas a vêem, tocam, mas não a conhecem.
Ela é gloriosa e vil, preciosa e insignificante
E encontrada em toda parte...
Para resumir,
Nossa Matéria tem tantos nomes
Quanto são as coisas do mundo;
Eis porque o tolo não a conhece"
The Hermetic Museum


A prima matéria é algo indefinido, pode ser qualquer coisa, é uma infinidade de possibilidades, especialmente nossos "defeitos", "problemas", "compulsões", "aspectos neglicenciados", "renegados", "não aceitos", e a única coisa certa é de que através do processo alquímico nos transformamos ou algo é transformado. Não existe alquimia sem transformação.
A origem da alquimia é bastante incerta, embora tenhamos conhecimento de sua prática na Grécia, no mundo árabe, hindu, chinês, egípcio, etc...
A palavra vem do árabe, Al-Khemy, que quer dizer "a química". Sua origem perde-se no tempo, existiram alquimistas na China milenar, bem como na Índia. Mas para nós ocidentais, o berço da alquimia é o Egito.
No começo da era Cristã, na cidade de Alexandria, foi que a alquimia tomou as feições que conserva até nossos dias.
Voltando ao velho alquimista, a principal matéria que era transmutada, era ele mesmo. À medida que se sucediam as etapas que lhe conduziriam até a Pedra Filosofal, ele tinha a sua essência transformada, atingindo um outro nível de consciência. Essa auto-transformação é que se constituía no verdadeiro "elixir da vida eterna".
O texto alquimico mais antigo que se tem notícia é conhecido como a Tábua Esmeraldina e a data exata da sua criação ainda não foi determinada, mas sem dúvida pertenceu à época pré-cristã. Seu autor, Hermes Trismegisto, era o deus do antigo Egito, Thot, que era o deus que regia as artes e ciências sagradas. Este texto e todos os outros atribuídos a Hermes foi chamado de Corpus Hermeticum , que foi o ponto de partida da alquimia.
Os relatos mais remotos de doutrinas que utilizavam os preceitos alquímicos, remontam à uma lenda que menciona o seu uso pelos chineses em 4.500 a.C. Ao que parece ela teria aflorado do taoísmo clássico (Tao Chia) e do taoísmo popular, religioso e mágico (Tao Chiao). Porém os textos alquímicos chineses encontrados, começaram a surgir na dinastia T'ang, por volta de 600 a.C.

A filosofia hindu de 1000 a.C. apresentava algumas semelhanças com a alquimia chinesa, como por exemplo, o soma, cujo conceito assemelhava-se ao do elixir da longa vida.
No Egito ela teria surgido no século III d.C. e demonstrava uma influência do sistema filosófico-religioso da época helenística misturando conhecimentos médicos com metalúrgicos. Alexandria era o reduto dos alquimistas.
Alexandre "o Grande" foi quem teria disseminado essa prática, durante suas conquistas aos povos Bizantinos e posteriormente aos Árabes, que sob a influência dos egípcios e chineses, trouxeram-na para o ocidente ao redor do ano de 950, inicialmente para a Espanha.

Sua época de apogeu foi a Idade Média, quando, sob esse nome, ela foi introduzida, no Ocidente, pelos árabes (século VII).
Na realidade, haviam duas correntes alquímicas: a prática, precursora da química e estabelecida por Paracelso (1493-1541); e a oculta, associada à magia.

Essencialmente, era caracterizada pela busca de duas substâncias: a pedra filosofal, capaz de transformar os metais inferiores em ouro, e o elixir da longa vida.
A Grande Obra, para a alquimia oculta, consistia no constante renascer, através do caminho do aperfeiçoamento e do conhecimento, até chegar à comunhão com a divindade.

Os alquimistas foram acusados muitas vezes de fazer pactos com demônios, perseguidos e queimados vivos durante a Inquisição pela Igreja Católica, dado o mistério que lhes envolvia.


"... deve-se considerar esse arcano, não apenas como uma Arte verdadeiramente grande, mas também como Arte sobremaneira sagrada... Por conseguinte, se alguém desejar alcançar esse grande e indescritível mistério, deve lembra-se de que ele é obtido, não apenas pelo poder do homem, mas também pela graça divina"
Turba Philosophorum


Ademais, para os leigos, qualquer operação química era considerada algo sobrenatural e devido a estas perseguições os alquimistas foram se separando da sociedade e os rituais alquímicos sendo cada vez mais, mantidos em segredo.
A alquimia é uma arte filosófica, sagrada, uma maneira diferente de ver o mundo, através da qual, o alquimista adquire conhecimentos irrestritos da natureza, se pondo em um ponto especial de observação. Seria como se uma pessoa pudesse ver tanto o aspecto físico nos mínimos detalhes bem como as energias associadas a este corpo. Ele entrava em contato e sintonia com o universo, e por isso, era preciso que tivesse um coração puro e intenções elevadas.


Jung e a Alquimia
"Só quando comecei a compreender a alquimia, pude perceber que ela constituiu um liame histórico com a gnose, e assim, através dela, encontrar-se-ia restabelecido a continuidade entre o passado e o presente. A Alquimia como filosofia da natureza, em vigência na Idade Média, lança uma ponte tanto para o passado, a gnose, como para o futuro, a moderna psicologia do inconsciente" Jung em psicologia e Alquimia


Percebendo a alquimia como um trabalho interior, Jung encontra nela a base para a sua psicologia analítica e mergulha profundamente em seu estudo.
Vale lembrar que o ouro é considerado o mais perfeito dos metais pois dificilmente se oxida, não perde o brilho e acredita-se que todos os outros metais evoluem naturalmente até ele no interior da terra. Portanto, a transmutação é considerada um processo natural. Os alquimistas somente acelerariam este processo, realizando as transmutações em seus laboratórios.
Da mesma forma, o processo de individuação humano, é um processo natural, espontâneo da psique, e a tarefa do psicoterapeuta é apenas acelerar o processo. A natureza é sábia e em seu curso sempre nos pressiona à totalidade, mas se nos deixamos vitimizar por nossos aspectos obscuros, acabamos por retardar esse processo. A psicologia analítica visa exatamente a identificação desses aspectos, e a aceleração do processo de reconhecimento e assimilação.


"A natureza serve à Arte com matéria, e a Arte serve à natureza com instrumentos apropriados e com o método conveniente para que a natureza produza essas novas formas; e embora a Pedra mencionada só possa ser levada à sua forma própria por meio da Arte, a forma é, não obstante, da natureza"
Alchemical Treatises of Solomon Trismosin


Jung chegou a considerar a alquimia muito mais como precursora da moderna psicologia do que da química, pois as raízes da psicologia se encontravam solidamente implantadas nos textos alquímicos que estudou durante mais de uma década.
Através de seus enigmáticos textos, cheios de símbolos, os alquimistas nos falavam de coisas como consciente e inconsciente, hemisférios cerebrais corpo, alma e espírito, processo evolutivo, integração personalidade/individualidade, polaridade energética dos seres, psíquico da matéria, a redenção como um trabalho pessoal de cada um, aperfeiçoamento da obra divina, etc...
O trabalho alquímico se baseia no princípio da sincronicidade, que é um princípio de conexão acausal, uma conexão misteriosa entre a psique do indivíduo e o mundo físico, material que se baseia no fato de que no fundo são apenas diferentes formas de energia; além de no pensamento analógico.
Jung concluindo que o inconsciente possui algo mais que conteúdos infantis reprimidos, localizou em seus pacientes, imagens universais, que afloravam, em certas situações, e ele deu o nome de arquétipos à essas formas, emoções, posturas, idéias e situações - modelos que compõem o conhecimento e o padrão comportamental universal, mesmo que não estejamos conscientes disto.
O conceito de "Unus Mundus" em que se baseia a sincronicidade, presente nos tratados alquímicos, especialmente de Dorns, proporcionou a Jung a chave do entendimento dos anseios alquímicos, e a possibilidade do fenômeno da sincronicidade ocorrer durante a lida com os metais, fazendo com que sincronicamente a matéria, também a psique do alquimista fosse transformada.
Percebendo a natureza psicóide dos arquétipos, ele pode entender que interno e externo são dois lados de uma mesma moeda, da mesma maneira que o que está em cima é igual ao que está embaixo, e vice-versa; e então, espírito e matéria aparecem como uma unidade. Os arquétipos, por sua natureza psicóide, como que se plasmam nos mundo físico e psíquico humanos.
E assim como físico e psíquico encontram-se indissoluvelmente ligados, também os reinos humano e divino; donde, conhecer-se a si mesmo, é conhecer a Deus.
Jung se deu conta então, que a busca alquímica era uma busca espiritual, e que o alquimista, buscando encontrar o espírito mercurial na matéria, acabava por encontra-lo em si mesmo, e ainda, que em sua busca de transformação da matéria, por analogia, acabava por transformar a si próprio. O que era projetado na matéria era o interior do próprio alquimista.
O alvo da alquimia é portanto a transformação gradual da forma material, no interior da qual está expressa uma força ou poder, numa direção que vai do grosseiro para o requintado, do material vil ao ouro.
Possuímos em nosso interior, material suficiente a ser transmutado numa consciência mais abrangente. Existe em cada um de nós uma centelha da divindade e é essa mesma divindade que tanto a alquimia como a psicologia analítica tenta redimir da prisão da matéria.
O ouro simbolicamente, é análogo à natureza divina do homem. Assim como o Sol e o coração, ele é uma imagem simbólica.
Cada estágio alquímico corresponde à um nível de crescimento da alma que se manifesta de forma simbólica.
Na alquimia vemos constantemente uma imagem de um rei velho que morre, essa imagem também se apresenta como um símbolo da necessidade da morte do velho ego, já que o objetivo do alquimista não é morrer a fim de alcançar o céu e sua bem-aventurança, mas passar por várias mortes psicológicas, até se tornar algo melhor e mais puro, o ouro, o mais nobre dos metais.


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TERAPIA FAMILIAR
SISTÊMICA



Olinda Gomes




1. INTRODUÇÃO


Profissionais das áreas da saúde, educação, etc. foram se dando conta ao longo dos tempos dos limites de recursos e de possibilidades para dar conta dos inúmeros problemas que os indivíduos trazem para os consultórios médicos, psicológicos, instituições escolares... E assim, a família reconhecida como instituição primária, fonte dos nossos recursos e também de nossas dificuldades, é cada vez mais requisitada para atuar junto às instituições sociais de que se utiliza. Ela tem responsabilidade, tanto em caso de disfunção de seus membros como também de possibilidades de ajudá-los. 1.1 A Terapia Familiar Sistêmica O movimento das terapias familiares desenvolveu-se rapidamente, em poucos anos, tanto em número de pessoas e de países envolvidos quanto em variedade de pesquisas, a partir de outros campos da ciência, que tradicionalmente não pertencem às áreas da psicologia e psicoterapia: a cibernética, a biologia, a química, a teoria dos sistemas.Na década de 50, a idéia do sintoma como “pertencente” a um só indivíduo começa a ser questionada. Não só as relações familiares da infância influenciavam o comportamento sintomático, mas as relações atuais também foram sendo consideradas como possíveis origens do sintoma, como mantenedoras e, até mesmo, reforçadoras do comportamento sintomático.  O “sintoma” passa, então, a ser entendido como expressão de relações interpessoais, principalmente as familiares, dentro de uma visão relacional e contextual. Naquela época, as orientações psicoterápicas eram basicamente individuais, e a Psicanálise era forte influência no trabalho com saúde mental. A nova idéia de tratar famílias por si só, põe em xeque toda a leitura do comportamento humano feita pela psicanálise. Mais ainda, a terapia de família constitui-se, inicialmente, como dirigida à ação, ao comportamento e não aos fenômenos intrapsíquicos. Ela se mostra essencialmente breve e diretiva. Os pioneiros da terapia de família enfrentaram não só problemas teóricos e técnicos, mas também problemas éticos. Era incompreensível em alguns contextos da época a “quebra de sigilo”, a ameaça à relação entre terapeuta e paciente, pela introdução de familiares na sessão terapêutica. Qual era a responsabilidade do terapeuta? Com toda a família? Com a melhora do paciente sintomático? Todas estas questões eram novas e difíceis de compartilhar com colegas e supervisores. A mudança deveria se dar no interior do paciente e não se considerava o meio social onde este paciente estava inserido.Já no final da década de 50 tornava-se claro que a terapia de família não se limitava a um novo método de tratamento, mas era uma nova forma de entender as relações humanas e suas mudanças. No final da década de 70 a visão da família como um sistema já havia se estabelecido como parte de um novo paradigma que propunha uma nova visão: psicossocial, contextual e sistêmica.

Assim, entender a família como sistema significa, acima de tudo, entender o “sintoma” como produto de interrelações; e entender cada indivíduo como imerso e indissociável desta rede de relações. A família não é a soma de indivíduos. A leitura da dinâmica familiar revela uma totalidade, uma identidade grupal. Pela perspectiva sistêmica as famílias tendem a funcionar como um sistema total. A família é vista como uma unidade, onde cada membro só é entendido no contexto do todo. Significa, portanto, deslocar o foco do sintoma no indivíduo, para as relações que o produzem e o mantém.

2. O MODELO SISTÊMICO


2.1 - Princípios Básicos

A família pode ser encarada como um circuito de retroalimentação, dado que as ações e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são influenciados pelos comportamentos de todos os outros. Qualquer mudança em algum membro da família vai afetar as demais pessoas pertencentes a essa unidade, pois todos estão interligados e em interação. A idéia central desta escola é ser o “doente”, ou membro sintomático, apenas um representante circunstancial de alguma disfunção no sistema familiar. O modelo sistêmico enfatiza o “sintoma” como a expressão de padrões inadequados de interação no interior da família.  Considera-se que todas as partes do sistema estão unidas através de uma relação circular; não existe princípio nem fim num círculo. Nenhum comportamento causa outro; estão ligados, de maneira circular, a muitos outros comportamentos. A doença mental, por exemplo, que tradicionalmente é pensada em termos lineares, históricos ou causais, seja dentro do modelo médico, seja do psicodinâmico, passa a ser considerada, baseada no modelo sistêmico, dentro da concepção de circularidade. Portanto, para o entendimento do funcionamento da família é necessário que o foco seja direcionado para as conexões e relações entre seus integrantes mais do que para os aspectos individuais.


2.2 - Teoria da Comunicação

Na comunicação humana as pessoas constantemente enviam e recebem uma variedade de mensagens através de canais verbais e não-verbais. Quando duas ou mais pessoas interagem, elas constantemente reforçam e estimulam o que está sendo dito e feito, de tal forma, que o padrão de comunicação dos participantes daquela interação definem o tipo de relacionamento entre eles. De acordo com isso, a importância de uma mensagem não está vinculada somente ao seu significado mas à influência que ela exerce no comportamento e nas atitudes das pessoas em interação. O comportamento sintomático de uma criança pode estar a serviço de atrair a atenção sobre seus sintomas para desviar o foco do problema conjugal dos pais, por exemplo.


2.3 – Um modelo trigeracional

A abordagem trigeracional representa uma mudança de ótica e nova orientação no domínio da terapia sistêmica. Leva em conta a dimensão histórico-evolutiva do sistema com o qual o terapeuta se encontra em interação, tanto quanto no que concerne ao indivíduo portador do sintoma como aos outros membros da família. A atenção está voltada não apenas para a história pessoal do paciente, mas para a de seus pais e a das relações que mantêm entre si e com suas respectivas famílias de origem. É o encadeamento das histórias pessoais dos parceiros que cria uma nova família com uma nova história. A reconstitução dessas histórias e a confrontação das várias gerações em sessão, permite que se observe como as relações atuais estão sobrecarregadas pelo peso das ligações não-resolvidas com as gerações passadas; e das quais os indivíduos nelas envolvidos não têm consciência.


2.4 - Conceito de Lealdade

O conceito de lealdade é fundamental para compreender a estruturação relacional mais profunda das famílias e outros grupos sociais. Os compromissos de lealdade são como “fibras invisíveis” porém resistentes, que mantêm unidos fragmentos complexos de conduta relacional, tanto nas famílias como na sociedade em seu conjunto. A individuação deve perceber-se como balanceada com as obrigações de lealdade do indivíduo no processo de maturação para com a família nuclear; e a potencialidade ou liberdade para estabelecer novos vínculos deve se tornar mais importante do que as antigas obrigações de união simbiótica com a família de origem. O risco é que num casamento, por exemplo, o compromisso com o cônjuge possa se tornar secundário, sendo priorizado o compromisso assumido com a família de origem - através da transmissão de individamento geracional - que vai se manter implícita na relação com a prole ainda por nascer.


2.5 – Missão Familiar – Groisman, Lobo e Cavour (1996)“Todo ser humano tem uma missão familiar a cumprir, explícita ou implícita, grande ou pequena, possível ou impossível.

O conceito de missão está associado à história vertical da família (família extensiva) no cruzamento com a história horizontal (família nuclear) e se insere em cada um dos membros da família”. - “... a missão se torna impossível quando se estabelece o conflito dramático entre realizar a missão pretendida pela família (e assumida pelo indivíduo), e sua necessidade de individuação...



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QUEM SOMOS NÓS,
AFINAL?



Olinda Gomes



Por que continuamos recriando a mesma realidade, repetindo os mesmos comportamentos e relacionamentos? É possível estarmos tão condicionados ao círculo vicioso de nossa vida, que pensamos não ter controle algum sobre nosso destino?
O filme “Quem Somos Nós?” nos levou a inúmeras questões sobre o Universo do qual fazemos parte. Mas esse título me remeteu à outra dimensão de nossas vidas; nossas próprias famílias. Afinal, quem somos nós,  dentro dessa complexidade que é ser um indivíduo, imerso num sistema familiar complexo?
Somos multidimensionais: física, emocional, mental e espiritualmente. Todos nós, porém, já nascemos pertencendo a uma família - o homem e a mulher que nos conceberam já trouxeram dentro de si suas próprias famílias. Foram porta-vozes de histórias de tantas outras mulheres e homens; nossos pais, avós, bisavós ..., cujas histórias se perdem em longínquas épocas da humanidade. Como estamos ligados à essa estrutura familiar? O que herdamos de nossos antepassados? O que há na memória coletiva de nossas famílias através de inúmeros acontecimentos, histórias, sagas familiares, que deram origem a mitos que vararam os séculos, desembocando hoje, nos valores, nas regras das nossas famílias, nos rituais que cultuamos – a nossa “programação emocional” familiar?
Esse programa exerce efeito poderoso na nossa vida como um todo; nos relacionamentos íntimos e em outras áreas da vida adulta. Pelo processo de projeção familiar “espera-se que os filhos cumpram expectativas não realizadas pelos pais em relação aos seus respectivos pais”; e através da lealdade familiar: “quando os indivíduos saem da família de origem para o mundo e o casamento, já estão ‘programados’ para desempenharem papéis e personagens pertencentes a pessoas, relacionamentos e eventos há muito enterrados.” O conceito de lealdade é fundamental para compreendermos a estruturação relacional mais profunda das famílias e outros grupos sociais. São como “fibras invisíveis” porém resistentes, que mantêm unidos fragmentos complexos de conduta relacional, tanto nas famílias como na sociedade em seu conjunto.
O indivíduo; a seus mitos familiares, luta por alinhar seus próprios interesses aos do grupo ao qual pertence; geração após geração os compromissos de lealdades verticais seguem em conflito com as lealdades horizontais. Os compromissos verticais devidos à geração anterior; os horizontais, com o próprio cônjuge, irmãos ou pares em geral. O estabelecimento de novas relações, em especial, através do matrimônio e do nascimento dos filhos, exige a necessidade de forjar novos compromissos de lealdade; e quanto mais rígido for o sistema de lealdade original, mais difícil será o desafio para o indivíduo. À medida que a família vai evoluindo todos devem enfrentar novas exigências de adaptação. É uma tensão contínua que nos força a definir um novo equilíbrio entre expectativas antigas com outras novas que vão surgindo. Nascimento, crescimento, luta com irmãos, individuação, separação, preparação para a paternidade, velhice dos avós e a morte são exemplos de situações que exigem novo balanço das obrigações de lealdade.
A nossa individuação deve se encaminhar para o balanceamento com as obrigações de lealdade às famílias de origem e o estabelecimento de novos compromissos para com as famílias novas que vamos criar ao longo de nossa vida; e a liberdade para estabelecer novos vínculos deve se tornar mais importante do que as antigas obrigações de união simbiótica com as famílias de origem. O risco é que num casamento, por exemplo, o compromisso com o cônjuge possa se tornar secundário, sendo priorizado o compromisso assumido com a família de origem - individamento geracional - que vai se manter atuando implicitamente na relação com a prole ainda por nascer. Como conciliar nosso caminho pessoal, nossas escolhas, com nosso “destino” familiar? Ser ou não ser, eis a questão...



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